Espectáculos • Performances

O Céu é apenas um disfarce azul do Inferno

Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão

Co-produção • Co-production - Festival Cumplicidades 2016

4, 5 Mar 21:30h • 9:30pm / 6 Mar 19h • 7pm | 45’ | M/16 | Alkantara

Dance, when you´re broken open. Dance, if you´ve torn the bandage off. Dance in the middle of the fighting. Dance in your blood. Dance, when you´re perfectly free. Jelaluddin Rumi

A criação O Céu é apenas um disfarce azul do Inferno (citação de um poema de Pascoaes) debruça-se sobre visões, representações, heresias, que Céu e Inferno, Demoníaco e Angélico, assumem na cultura portuguesa, e fá-lo sob o signo da relação: carnal, conceptual, poética. Do “amor carnal espiritualizado pela dor”. Esta criação pretende recuperar céus e infernos, de disfarces em disfarces. Com o medo e com a excitação, num fluxo constante de dissolução de fronteiras, de livre circulação de pulsões e intensidades. Os conceitos de “Caótico” (Deleuze) e de “Id” (Freud), surgem ainda como ferramentas a trabalhar. Para que se lidem vibrações, velocidades, intensidades, sensações, choques. O Caótico como criador de dissonâncias, de tensões, de conflitos que se alimentem de prazer, e de resíduos reprimidos. De céu e de inferno, portanto. HCC & JvMT

Dance, when you´re broken open. Dance, if you´ve torn the bandage off. Dance in the middle of the fighting. Dance in your blood. Dance, when you´re perfectly free. Jelaluddin Rumi

The creation Heaven is just a blue disguise of Hell (from a poem of Teixeira de Pascoaes)  deals with visions, representations, and heresies that Heaven and Hell, Demonic and Angelic, assumed in Portuguese Culture, and does so under the sign of Relation: carnal, conceptual and a poetic. Of a “carnal love spiritualized by pain.” This creation aims at recovering such heavens and hells from their disguises. With fear and excitement. In a steady stream of dissolving borders, of freeing movements, of drives and intensities. The concepts of “Chaotic” (Deleuze) and “Id” (Freud) also stand as tools to work with. In order to deal with vibrations, speeds, intensities, sensations, shocks. The chaotic as a creator of dissonances, tensions, of conflicts that feed themselves from pleasure and repressed residues. Of heaven and hell. HCC & JvMT

WE WILL USE SMOKE MACHINES

Maurícia|Neves

Estreia • Première

5, 6 Mar 21.30h • 9.30pm | 45' | M/12 | Negócio ZDB

Como transformamos os nossos corpos em máquinas, em mágoas, em sofrimento. O que o capitalismo nos fez, a guerra, a política, a indústria. 5 artistas, vindos de diferentes áreas artísticas – fotografia e o vídeo, a luminotecnia, a música, o teatro e a dança –  juntam-se para uma proposta colaborativa onde o experimentalismo é a palavra de ordem e o manifesto a sua renumeração.

Paralelamente, João Catarino e a equipa de criação do espectáculo inaugura a exposição How we built a smoke machine sobre o seu processo criativo.

Neste espectáculo fuma-se em cena e há  luz estroboscópica (strobe).

How do we transform our bodies into machines, into hurt, into pain. What capitalism has done to us, the war, the politics, the industry. Where experimentalism is the main issue and the manifest is their reward, 5 artists from different artistic fields – photography and video, lighting, music, theater and dance – join in a collaborative proposal.

In parallel, João Catarino and the performance team open the exhibition How we built a smoke machine, about their creative process.

Performers smoke on stage and  there is strobe light.

Os Mal Sentidos

Andresa Soares, Matthieu Ehrlacher & Gonçalo Alegria

Estreia • Co-produção do Cumplicidades 2016 | Première • Cumplicidades 2016 Co-production

9, 10, 11 Mar 21.30h • 9.30pm | 80' | M/12 | Negócio ZDB

Os Mal Sentidos trabalha sobre vários níveis de tradução e de deslocação de sentidos da realidade para complexificar a leitura da actualidade numa tragicomédia do Presente. O que poderá ser hoje o processo de construção do mito? O mito é construído através da reprodução de narrativas que, pela sua repetição, se tornam colectivas. Hoje, associamos aos media essa construção embora saibamos que, ao aceder à informação, não a encaramos como narrativa mitológica, mas sim factual. O modo como é transmitida a informação reflecte o que “se acredita” ser a articulação do pensamento contemporâneo. As palavras que usamos (ou que caem no uso comum) revelam as nossas crenças, o mundo que temos para articular. Num jogo de espelhos, criam-se vários dispositivos que desdobram a realidade do espaço de apresentação (público, intérpretes, linguagem, tradução, criação de movimento) em “agora” e “representação do Presente”. Cria-se assim uma “confusão dramatúrgica”, reflexo do modo de percepção e tradução da actualidade. Aqui, duas pessoas estão sujeitas à linguagem, como uma arma.

Ela aproximou-se dele e quase sem conseguir olhá-lo nos olhos disse-lhe:
ELA: Tudo o que eu queria era uma SOLUÇÃO MÚTUA VIÁVEL.
Ele olha-a com complacência e mesmo com um ligeiro sorriso.
ELE: Mas querida, REGRAS SÃO REGRAS.
ELA: Eu sei. UM EM CINCO irá dizer o mesmo…
O ambiente na sala estava tenso, como se há muito não se abrisse uma porta ou uma janela. Sentiam-se a respirar o mesmo ar de há cinco anos atrás sendo que, por o respirarem, não era o mesmo ar de há cinco anos atrás.

The Wrong Felt works on multiple levels of translation and displacement of reality meanings to intricate the reading of current events in a tragicomedy of the Present. What could be the myth construction process of today? Myth is constructed through the reproduction of narratives, which become collective by their repetition. Today, we associate that construction to the work of media, although we know that, while accessing the information we don’t perceive it as mythological narrative but factual. The way information is transmitted reflects what is believed to be the articulation of contemporary thought. The words we use (or that become current) reveal our beliefs and the world we articulate. In a game of mirrors are created multiple devices that deploy the reality of presentation space (audience, performers, language, translation, movement) into “now” and “Present representation”. This creates a dramaturgical confusion, reflecting the way we perceive and translate current events. Here, two people are subject to language as a weapon.

She approached him and, barely being able to look him in the eyes, told him:
SHE: All I wanted was a MUTUAL VIABLE SOLUTION.
He looks at her with compliance and even a slight smile.
HE: But dear, RULES ARE RULES.
SHE: I know. ONE IN FIVE shall say the same …
The atmosphere in the room was tense, as though long ago no door or window had been opened. They felt they were breading the same air from five years ago and that, because they were breading it, it was no longer the same air from five years ago.

Who said anything about dance!?

Karima Mansour, Egipto • Egypt

Estreia Nacional • National Première

11, 12 Mar 19h • 7pm | 50' | M/6 | Alkantara

Who said anything about dance!? procura dissecar o papel do artista, bem como o da arte. É um trabalho que se inspira em situações relacionadas com a construção da identidade de um artista.  Revelando  as entranhas e a intimidade do próprio processo criativo, Mansour joga com as expectativas da audiência para questionar as constantes solicitações e pressões a que o criador está sujeito. Afinal para que serve a arte? Serve para entreter ou para questionar e, algumas vezes, também perturbar? Ao longo deste espectáculo, o tom irónico revela que há sempre mais a ler nas entrelinhas…

Who said anything about dance!? seeks to reflect and question the role of the artist, as well as the role of the art. It is a work inspired by various situations related to the construction of an artist identity. Exposing the insides and the intimacy of the creative process itself, Mansour plays with audience expectations to question constant demands and concessions that are required and expected from a creator. What is the value of art after all? Is art meant to entertain or is it meant to question and maybe, at times, disturb? In this performance, an ironic tone reveals that there is always more to read between the lines…

Intermitências

Joclécio Azevedo

12 Mar 21.30h • 9.30pm / 13 Mar 18h • 6pm | 60' | M/6 | Teatro da Trindade

Em Intermitências tomamos como ponto de partida o uso do tempo, entendido não apenas como algo linear (passado, presente, futuro) mas como elemento transversal da nossa existência. O tempo que nos une e que nos separa, o tempo da disjunção e da sobreposição, o tempo da fricção entre tempos contrastantes. O corpo assume-se, neste contexto, como uma espécie de palimpsesto, como superfície de inscrição que se transforma e que mostra as evidências das suas mudanças. Os intérpretes são suportes de inscrições e de memórias mas também se desdobram como agentes observadores e activadores de indícios, a multiplicar possibilidades de agir e de interagir com os outros. O próprio processo de trabalho, de criação desta peça coreográfica, de colaboração entre os elementos deste grupo, transforma-se em conteúdo, despoletando intercâmbios de papéis que evidenciam a necessidade de repensar modos de produção. Nesta obsessão de tornar habitável e visível o processo de trabalho, ensaiamos formas de apropriação do espaço comum, ocupamos o tempo em que existimos em conjunto, tentamos contornar a velocidade do mundo que nos ultrapassa continuamente.

Paralelamente, Joclécio Azevedo falará sobre o seu trabalho no ciclo de palestras O Meu Processo.

Intermitências has its starting point in the use of time, understood not only as something linear (past, present, future) but also as traversal element of our existence. The time that unites and separates us, the time of disjunction and overlapping, the time of friction between contrasting times. In this context, the body is assumed as a kind of palimpsest, as an register surface that transforms and shows the evidences of its changes. The performers are registrations and memories holders but also they unfold as observers agents and evidence activators, multipling possibilities to act and interact with others.. The creative process of this piece, of collaboration between the members of this group, becomes the content, triggering role exchanges which show a need to rethink forms of production. This obsession to make inhabitable and visible the work process, we essay new appropriation forms of public space and occupy the time in which we exist together trying to escape to the world speed that continuously surpasses us.

In parallel , Joclécio Azevedo will talk about his work in the lecture series My Process.

REACTING TO TIME, portugueses na performance – Il faut danser Portugal, António Olaio

Vânia Rovisco

Apresentação do workshop Transmissão VIII • Workshop Transmission VIII presentation

14 Mar 19h • 7pm | 45' | M/16 | Teatro da Trindade - Hall de entrada

REACTING TO TIME, portugueses na performance, procura actualizar a especificidade da memória corporal das primeiras experiências da performance. Aceder à origem dessa informação, actualizá-la pela transmissão directa e apresentá-la publicamente, são os objectivos deste projecto. Trata-se de construir um arquivo vivo, tornado presente nos corpos. Vânia Rovisco vem desenvolvendo um trabalho de contextualização e de investigação e contactando com os primeiros agentes da performance em Portugal, na actualização destes trabalhos inaugurais para posteriormente os transmitir. A apresentação é o resultado do processo de transmissão da performance de António Olaio – Il faut danser Portugal (1984), durante o Workshop Transmissão do Cumplicidades, na Culturgest.

Paralelamente, Vânia Rovisco falará sobre o seu trabalho no ciclo de palestras O Meu Processo.

REACTING TO TIME, portuguese in performance, seeks to update the bodily memory of early performance art experiments. By accessing the source of information, passing it on by direct transmission and presenting it publicly: the objectives of this project. It’s about building a living archive embodied in the present. Vânia Rovisco is developping a work of research and contextualization, directly with the first agents of Portuguese performance art, updating initial performances to transmit them afterwards. This presentation is the result of the transmission process of António Olaio’s performance – Il faut danser Portugal (1984) of the Workshop Transmission, during Cumplicidades in Culturgest.

In parallel , Vânia Rovisco will talk about her work in the lecture series My Process.

You’re not a fish after all

Mihran Tomasyan & Çıplak Ayaklar Kumpanyası, Turquia • Turkey

Estreia Nacional • National Première

15, 16 Mar 21:30 • 9:30pm | M/6 | Rua das Gaivotas 6

Atravessamos o caminho da água, colocamos sacos de areia ou uma barreira, mas independentemente do que façamos, a água encontra sempre uma fenda, e continua a fluir livremente, naturalmente, na sua jornada, enfrenta muitos obstáculos, talvez até mesmo se torne toda enlameada, no entanto, neste país, “assassinatos de água” acontecem constantemente. Esta peça é a história daqueles que fazem da viagem na água a sua própria jornada e passeiam ao longo de todos os tipos de água. Uma mala de viagem é aberta, e as coisas que de lá saem têm certamente vontade de encontrar suas próprias ranhuras.

You’re not a fish after all é dedicada àqueles que foram mortos pelas suas opiniões, começando por Hrant Dink, um jornalista Arménio na Turquia.

You cross the water’s path, put sandbags or set a wall before it, but whatever you do, water finds a crack, and keeps flowing freely of course, in the journey, it faces many obstacles, maybe even gets all muddy this is always the case, however, in this country, “water killings” constantly take place.This piece is the story of those who make the journey of water their own journey and wander along all kinds of water.A suitcase is opened, and things that come out will surely find their own cracks.

You’re not a fish after all is devoted to those who was killed due to their opinions, starting from Hrant Dink who is an Armenian journalist in Turkey.

AIM

Flávio Rodrigues

Ensaio Aberto • Open Rehearsal

15 Mar 18h • 6pm | | EIRA - Teatro da Voz

AIM é uma performance a solo, onde a cenografia, a sonoplastia e a coreografia são construídas como metáforas para o seu desaparecimento. O Medo, o Fim e a Extinção são explorados a partir do conflito e da ameaça em direcção ao vazio. A luta do intérprete, no esvaziamento da sua existência. O palco é visto em AIM como uma maquete do universo. Um modelo do que somos, do mundo que habitamos e dos espaços e estados que permeamos. E é nesse lugar, representativo da utopia, que se geram os confrontos situados num contexto de celebração (ritual). Os materiais a testar são essencialmente primários. Quero explorá-los com o objectivo de encontrar a força, a vulnerabilidade, a efemeridade ou a impermanência de cada elemento. AIM é a metáfora do tempo, de um corpo e de um espaço teatral actual. Em conflito, em guerra. O confronto como gerador de desaparecimento, e este como fim último. No limiar da extinção, o que resta? O que se propaga? O que substitui? O que sobrevive?

AIM is a solo performance, where the set, sound and choreography are built as metaphors for their disappearance. Fear, End and Extinction are explored from conflict and threat towards the void. The performer struggles, by emptying his own existence. The stage is seen in AIM as a model of the universe. A model of what we are, the world we inhabit and spaces and states we permeate. It is in this place, representative of utopia, that confronts are generated, situated in a context of celebration (ritual).  I use and tested essentially and primary materials. I want to exploit them in order to find the strength, vulnerability, transience or impermanence of each element. AIM is the metaphor of time, of a body and a current theater space. In conflict, in war. The confrontation as a generator of disappearance, and this one as the ultimate. On the edge of extinction, what is left? What is spread? What replaces? What survives?

A morte da audiência

Bruno Humberto

18, 19 Mar 19h • 7pm | 45' |M/8 | Museu da Marioneta - Claustro

Uma performance acerca da natureza da audiência – as expectativas, relações, tensões e papéis que cada um assume, individualmente ou em grupo numa situação de espectáculo ou terror cénico.  Através da dança, video, teatro-físico, poesia e som, apresenta-se um ensaio absurdo acerca do espectador, da sua responsabilidade, acção e passividade em massa. Uma série de situações para um público em movimento, onde são desconstruídas coreografias de distâncias e poder inerentes em qualquer tipo de ritual ou espectáculo.

The Death of the Audience. A performance about the nature of spectatorship – the expectations, relationships, tensions and roles that each individual or group takes on a spectacle situation. Through the languages of dance, video, physical theatre, poetry and sound, this performance presents an absurd essay about the spectator, and his responsibility, action and passivity in a mass scale.  A series of actions for an audience in movement, where the choreographies made of distances and power, inherent in any type of ritual or show, are deconstructed.

Contessa

Meryem Jazouli, Marrocos • Morocco

Estreia Nacional • National Première

18, 19 Mar 21:30h • 9.30pm | 40' | Rua das Gaivotas 6

O solo interpretado pela corerógrafa marroquina Meryem Jazouli e escrito com a cumplicidade de Fatima Mazmouz, Contessa faz-nos mergulhar nas lendas e tradições de Marrocos através das suas principais figuras femininas. Desde a feiticeira e prostituta, Aïcha Kandisha – espírito que possui algumas mulheres e enlouquece os homens – a Haja Hamdaouia – cantora marroquina que modernizou o Aïta Marsawiya (música popular marroquina) – a coreógrafa escolhe encarná-las e desencarná-las simultaneamente. Através do movimento e de um trabalho com a respiração e a voz, Meryem Jazouli desconstrói, um por um, os mecanismos destas caricaturas fantasmáticas  do imaginário masculino para mostrar uma multiplicidade de identidades femininas mais ambíguas mais complexas. Como se fosse para nos dizer que ela é um pouco de todas estas figuras mas é, sobretudo, uma figura singular.

The solo performed by the Moroccan choreographer Meryem Jazouli and written with compicity of Fatima Mazmouz, Contessa makes us dive into the legends and traditions of Morocco through its main female figures. Since the witch and whore, Aïcha Kandisha – a spirit who inhabits the body of some women and makes men mad – at Haja Hamdaouia – Moroccan singer who modernized the Aïta Marsawiya (tradicional morrocan music) – the choreographer chooses to embody and disembody them simultaneously. Through movement and the work with breath and voice, Meryem Jazouli deconstructs, one by one, the mechanisms of these ghostly caricatures of male imagination to reveil a multiplicity of feminine identities more complex and ambiguous. As if to tell us that she is a bit of all these figures but is also, and above all, a singular one.