Tempo de produção, tempo de montagem, tempo de apresentação, tempo de reflexão, tempo de desmontagem, tempo de divulgação, tempo de espera. O meu tempo e o tempo do outro, tempos inter-conectados, tempos descontínuos. Intermitências resulta de um processo de criação coreográfica que incidiu sobre o uso do tempo num processo de criação artística, utilizando a ideia de desdobramento enquanto ferramenta de trabalho e servindo como moldura para pensar a ideia de produção, questionando o que é que se produz num processo criativo. O projecto foi realizado em vários espaços do Teatro Municipal do Porto – Rivoli, culminando com uma apresentação no grande auditório Manoel de Oliveira. Uma série de curtas residências artísticas deram origem a apresentações em processo que se desdobraram em novos processos de trabalho, em novas explorações de matérias e de relações, criando um ambiente mutável e permeável à negociação permanente. Intermitências é simultaneamente o nome do projecto de residências (com 3 apresentações intermitentes) e da criação coreográfica que resultou deste processo de trabalho. Nesta palestra pretendo falar sobre as fases do processo de trabalho e questionar as ambiguidades das relações entre aquilo que consideramos ser processo ou produto, criação ou apresentação, artista ou instituição.

Partilho algumas das linhas centrais do meu processo de criação e das estratégias de pesquisa e composição, lançando para reflexão algumas questões em torno do seu modus operandi e dando relevo a uma dimensão imagética e cenográfica do corpo em movimento. Em que medida um processo auto-representativo e auto-referencial se constitui como processo de representação/transformação do mundo, questionando o lugar do corpo? Exponho ainda a minha experiência e trabalho desenvolvido em projectos de dança inclusiva e dança na comunidade. No final da palestra serão partilhados materiais performativos explorados no workshop SELF-SERVICE: Solos Multiplicados, desenvolvido com um grupo de alunos da Escola Artística António Arroio.