Latitudes em Movimento • Moving Latitudes

 A primeira edição do Festival Cumplicidades segue uma linha programática que se configurou naturalmente a partir dos encontros e dos diálogos entre pares resultantes da edição zero.

O sub-título Latitudes em Movimento descreve a nossa preocupação nuclear em dinamizar um programa orientado para processos que são movidos pela cumplicidade: aqueles de ordem criativa (intrapessoais e microscópicos) focalizados na relação dos coreógrafos com o seu tempo de investigação artística; e outros que se referem às dimensões estratégicas de difusão artística e de articulação com redes de produção na região do mediterrâneo e do Médio Oriente, sendo que estes últimos processos acentuam o cariz macroscópico e comunitário da produção em dança contemporânea.

O programa compõe-se de espectáculos, workshops, palestras, exposições e uma conferência internacional: meios através dos quais os participantes explicitarão os seus métodos, as suas reflexões e inquietações, assim como comunicarão os paradigmas ou bases teóricas que fundamentam a sua linha de trabalho. Desta forma potenciamos dois objectivos primários do festival: a difusão de obras de coreógrafos portugueses ampliando o seu grau de visibilidade, e o alargamento da internacionalização cruzando contactos e partilhando experiências com profissionais de França, Marrocos, Egipto, Líbano e Turquia.

Deste modo, o pensamento em torno da dança contemporânea terá um lugar destacado. Organizamos um conferência internacional onde, num primeiro painel, e com a participação de académicos e de programadores, se discutirá o conceito de cumplicidade na dança contemporânea. Segui-se-á um encontro entre agentes europeus que debaterá temas como o impacto do trabalho artístico na relação com as comunidades, o financiamento para os países do eixo do sul da europa e do médio oriente, e a criação de redes profissionais.

Simultaneamente, o ciclo de palestras O Meu Processo proporcionará o encontro do público com os coreógrafos Joclécio Azevedo, Vânia Rovisco e Rafael Alvarez. Estes irão abordar aspectos do seu percurso artístico centrando-se nos processos de criação de peças suas contempladas nesta programação, respectivamente: a estreia em Lisboa de Intermitências, a transmissão de uma performance-arte de António Olaio apresentada em 1984 e uma recriação do solo Self-Service com alunos da Escola António Arroio.

Centrando-nos ainda nos processos criativos, realizamos duas exposições na Casa da Imprensa: How we built a smoke machine, de João Catarino e Maurícia Neves, e Solos multiplicados de Rafael Alvarez. Através do visionamento de documentos de registo e da montagem de vários artefactos, recapitularemos as fases de criação de um espectáculo da autoria destes coreógrafos.

Os espectáculos calendarizados conferem ao público propostas contemporâneas de âmbito mais experimental. O céu é apenas um disfarce azul do inferno da autoria de Joana Von Mayer Trindade e de Hugo Calhim Cristovão é a peça inaugural, e também uma co-produção do festival. Seguir-se á outra co-produção, Os mal sentidos de Andresa Soares e Matthieu Ehrlacher. Alguns dos trabalhos serão objectos estéticos finalizados na sua proposta de comunicação com as audiências, como será o caso de Who said anything about dance!?’ da egípcia Karima Mansour, da produção marroquina Contessa por Meryem Jazouli e de Intermitências de Joclécio Azevedo. Outros encerram abordagens cénicas mais singulares como We will use smoke machines da jovem Maurícia Neves, Aim de Flávio Rodrigues (a apresentar em registo de ensaio aberto) e da instalação o vivo do espanhol Abraham Hurtado. Num sistema de representação de maior parceria e de envolvimento espacial com o espectador temos os casos de A morte da audiência de Bruno Humberto, do projecto REACTING TO TIME de Vânia Rovisco que se propõe trabalhar a transmissão da performance de António Olaio Il faut danser Portugal e da produção turca de Mihran Tomasyan & Çiplak Ayklar Kumpanyasi intitulada You’re not a fish after all.

Tratando-se de um festival, haverá necessariamente momentos de socialização e de celebração sendo de destacar as festas de inauguração e de encerramento, assim como a organização de uma tertúlia com os participantes conferencistas.

Por fim, uma vez que o festival Cumplicidades foi contemplado com o selo EFFE – Europe for Festivals, Festivals for Europe, cremos que esta edição atrairá programadores estrangeiros e continuará a potenciar a ligação que pretendemos entre os artistas envolvidos, o público e a cidade de Lisboa.

Ezequiel Santos
Fevereiro 2016

The first edition of Festival Cumplicidades follows a programmatic line that took naturally shape from the meetings and dialogues between peers resulting from the edition zero.

The subtitle Moving Latitudes describes our main concern of fostering a programme oriented to processes that are driven by complicity. On the one hand, processes on the creative level (intrapersonal and microscopic), focused on the relationship of choreographers with their artistic research time. On the other hand, processes related to the strategic dimensions of artistic diffusion and the connection with production networks in the Mediterranean region and the Middle East. Significantly, the latest intensify the sense of community of contemporary dance in its macroscopic scope.

The programme includes performances, workshops, exhibitions, lectures and an international conference. These will be the means through which the authors will expound their methods, reflections and concerns, as well as communicate the paradigms and theories that underlie their work. Thus, we enhance the prospects of furthering the diffusion and visibility of Portuguese choreographers’ work, and of expanding their presence internationally, sharing experiences and establishing contacts with professionals from France, Morocco, Egypt, Lebanon and Turkey.

As the festival was awarded with the EFFE (Europe for Festivals Festivals For Europe) certification, we believe that the 2016 edition will attract a greater number of foreign programmers, and will continue to deepen the connection we wish for between the artists, the audience and the city of Lisbon.

Ezequiel Santos
February 2016

ezequiel-santos
Programador Edição 2015 e 2016:

Ezequiel Santos é psicólogo, docente na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril na área de ciências sociais e humanidades. Foi professor convidado na Escola Superior de Dança, em Lisboa, em 2005/2006.
Concluiu o Curso de Dança na Comunidade do Forum Dança em 1993 e desde então desenvolve a sua actividade como crítico de dança e como pedagogo nas áreas da psicologia do lazer, da comunicação e da ética e responsabilidade social.  Foi intérprete dos coreógrafos Madalena Victorino, Rui Nunes e Francisco Camacho até 1996. Desde esse ano e até 2006 foi director do Núcleo de Apoio Coreográfico do Forum Dança,onde ainda  lecciona regularmente as disciplinas de “História da Dança” e “Teoria da Dança”.
Programmer 2015 and 2016 Editions:

Ezequiel Santos is a psychologist, lecturer at Estoril Higher Institute for Tourism and Hotel Studies in the field of social sciences and humanities. He was a guest teacher at the Higher School of Dance in Lisbon betweenn 2005/2006. He holds a diploma in Community Dance (Forum Dança, 1993) and has been developing  activity as  dance critic and as a pedagogue in the fields of leisure psychology, communication and ethics and social responsability. From 1990 until 1996 he was a performer for the choreographers Madalena Victorino, Rui Nunes and Francisco Camacho, with whom he toured in various European cities. Between 1996 and 2006 he worked as director of Choreographic Support Nucleous of Forum Dança, where he still teaches History of Dance and Theory of Dance.