A edição experimental do
Cumplicidades – Festival Internacional de Dança Contemporânea de Lisboa, em 2015, foi um acto de resistência da
EIRA e de todos os participantes. Num tempo de crise e de austeridade que acentuou a fragilidade de um sector que nunca se consolidou verdadeiramente, era urgente uma oportunidade, um contexto, que impulsionasse o sentido de comunidade, o orgulho de si. Fazia falta um festival que marcasse a dança no imaginário da cidade. Reclamámos esse território, ainda que conscientes de que os criadores nacionais, maioritariamente, praticam a pluridisciplinaridade e cultivam o hibridismo. Defendemos essas propostas desafiadoras de classificações, questionando a sua definição a partir de dentro das margens da dança e não do seu exterior. Não menos necessário era reposicionar Lisboa no mapa da dança internacional. Faltava um evento dedicado a esta disciplina artística e que contribuísse para a percepção da capital enquanto centro de irradiação. Capciosamente, Ezequiel Santos elegeu a
memória como motor da sua programação para um festival ainda por nascer. Articulou um conjunto de movimentos, gestos e palavras, que atravessou o tecido urbano e abrangeu públicos diversificados. Na edição zero, evocou o passado para salientar o presente, recuperando momentos da história da dança portuguesa e encorajando as pulsões criativas de hoje. Já em 2016, poderemos usufruir das suas escolhas para a primeira edição oficial de
Cumplicidades, assentes em
processos. Depois deste arranque que exigia cumplicidades fortes para vingar – como a de Ezequiel Santos -, a programação nacional será definida por um/a convidado/a diferente em cada edição (bienal), atendendo aos princípios de reinvenção e pluralidade, com o intuito de garantir a diversidade de abordagens artísticas.
Francisco Camacho
The experimental edition of the International Dance Festival
Cumplicidades, in 2015, was an act of resistance from the part of
EIRA and all the participants. In a time of crisis and austerity which accentuated the fragility of an domain that wasn’t consolidated, it was urgent to create an opportunity, a context, that would propel a sense of community and of self-pride. There was a need of a festival which would mark dance in the city’s collective imagery. We claimed that territory, regardless being aware of that most Portuguese artists embrace interdisciplinary work and nourish hybrid outcomes. We defended such proposals, defiant of classification, questioning its definition from within the margins of dance and not from its exterior. No less necessary was to reposition Lisbon in the international map of dance. There was a lack of an event dedicated to this artistic discipline which would contribute to the perception of our capital as a centre of irradiation. Captiously, Ezequiel Santos elected
memory as the motor of his programme for a festival still to be born. He assembled movements, gestures and words, which traversed the urbanscape, encompassing diversified audiences. In our trial edition, he evoked the past to single out the present, summoning up moments from Portuguese dance history and encouraging the creative pulse of today. As for 2016, we will be able to enjoy his choices for the first official edition of
Cumplicidades, which stem from the keyword
processes. After an outset that demanded for strong complicities in order to pull off – such as with Ezequiel Santos -, the national programme will be defined by a different guest in each edition (biennial), attending to the principles of reinvention and plurality, with the intent of guaranteeing the diversity of artistic approaches.
Francisco Camacho